Brasileiro só toma vacina em situação crítica, diz virologista

Com a chegada do frio, surge a dúvida: acabou a epidemia da febre amarela? Os especialistas afirmam que a transmissão do vírus diminuiu, mas quem não está vacinado continua correndo risco de contrair a doença. “A presença da febre amarela é irreversível. Daqui não vai sair mais”, afirma o médico e doutor em microbiologia Maurício Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

“Quem não se vacinou deveria aproveitar que tem vacina e não tem fila. É importante vacinar para ficar protegido para as próximas temporadas, porque a coisa não vai desaparecer”, completa.

Ele ressalta que, atualmente, todo o território nacional é considerado área de circulação do vírus. Nesta época do ano, a incidência do vírus diminuiu inclusive nas regiões de mata, consideradas de risco da doença, segundo Nogueira. “A transmissão também diminuiu nessas regiões, mas o risco sempre existe. Entrar em uma região de mata sem estar vacinado é uma irresponsabilidade”, afirma.

A entomologista Maria Anice Sallum, professora do Departamento de Epidemiologia da USP, explica que temperaturas em torno de 15°C são suficientes para interromper o desenvolvimento do vírus dentro do organismo do mosquito transmissor da febre amarela.

No entanto, ela lembra que, ainda estão ocorrendo casos da doença em pessoas e macacos na Baixada Santista, no litoral Norte de São Paulo e no Vale do Ribeira porque nesses locais a temperatura “nunca é muito baixa”.

Maria Anica explica que, além da temperatura baixa, é preciso que ela se mantenha nesse patamar por ao menos uma semana para garantir tanto a diminuição da quantidade de mosquitos quanto para interromper o desenvolvimento do vírus dentro de seu organismo.

“Nosso inverno apresenta dois fatores importantes: é frio e seco. A baixa umidade reduz a densidade de mosquitos porque diminuem os reservatórios de água onde eles se multiplicam, e o frio impede que o vírus se replique dentro do organismo do mosquito”, explica a entomologista.

Esta seria a época ideal para vacinar, gradualmente, toda a população ainda não imunizada para que, no próximo verão, não hajam pessoas expostas ao vírus, segundo Nogueira. “Nós temos que ter política de vacinação efetiva que não faça ter casos. Nós já fizemos isso antes então não é difícil”, afirma.

Vacinação de adultos é um problema crônico no país

No auge da epidemia da febre amarela no país, no verão passado, as pessoas chegavam a passar nove horas na fila, que dobravam esquinas, para se imunizarem.

A duas semanas do inverno, a campanha de vacinação na cidade de São Paulo, por exemplo, no Estado que registrou o maior crescimento da doença neste ano, foi estendida novamente. O motivo: sobram vacinas e pessoas não imunizadas.

O presidente da SBV atribui a baixa adesão a fake news, mas também ao próprio governo. “O governo fala que não tem risco da doença, então a pessoa vai para a internet e conclui: por que vou correr o risco da vacina? A campanha de divulgação da vacina contra a febre amarela foi contra-produtiva”, acredita.

O virologista cita Minas Gerais, líder em número de morte e casos da doença no país, como um exemplo de como a baixa adesão à vacinação levou a um prolongamento da epidemia. “Minas Gerais me impressiona, principalmente a região metropolitana de Belo Horizonte, que teve vários óbitos, pois é uma região de vacinação há 15 anos. Já era para ter parcela vacinada muito grande”, diz.

Para Nogueira, a vacinação de adultos é um problema crônico no Brasil. “A vacinação infantil é exemplar no país, mas o Brasil não sabe vacinar adulto”, afirma.

“Não é só a vacina da febre amarela. A vacina da gripe também está sobrando. Você não tem adesão do adulto à vacinação a menos que seja situação de crise. Aí na crise eles fazem aquelas filas enormes. Mas as pessoas têm que entender que isso é um processo contínuo”, conclui.

Ele explica que isso se deve a uma falta de percepção do risco. “A pessoa está bem de saúde e se pergunta: por que vou me vacinar? Já, por outro lado, é muito fácil vacinar criança porque o médico fala ao pai e ele fala para a criança: você vai por bem ou por mal. Com certeza você tem na sua casa adultos que não vão se vacinar. Então é difícil”.

Os números da febre amarela e da gripe

Segundo o Ministério da Saúde, atualmente todo o território brasileiro é considerado área de recomendação da vacina contra a febre amarela. A vacinação deve ser feita em todo o país de forma gradual, com previsão de ser concluída em abril de 2019.

Não há balanço atual do número de vacinados no país, segundo o ministério.

Na cidade de São Paulo, a campanha de vacinação foi prorrogada até o dia 30 de junho, pois apenas 56,1% da população havia sido vacinada. A meta é atingir 95% dos moradores.

De julho do ano passado até 16 de maio, data do último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, havia 1.266 casos confirmados de febre amarela e 415 mortes pela doença.

Ao todo, foram notificados, neste período, 6.589 casos suspeitos, sendo 4.091 já descartados e 1.232 ainda em investigação. As informações são repassadas pelas secretarias estaduais de saúde para o Ministério da Saúde.
Já em relação à gripe, o Ministério da Saúde informou que, após a prorrogação da campanha nacional, 75,8% do público-alvo se vacinou em todo o país.

De acordo com o boletim divulgado na última quinta-feira (7), 13,1 milhões de pessoas que fazem parte do público-alvo ainda não se vacinaram.

A campanha vai até o próximo dia 15. A expectativa do Ministério da Saúde é que 54,4 milhões de pessoas sejam vacinadas.

Até o dia 2 de junho, havia 2.315 casos registrados e 374 mortes pela gripe no país, segundo boletim do Ministério da Saúde.

Do total, 1.395 casos e 243 mortes foram por H1N1. Em relação ao vírus H3N2, foram registrados 463 casos e 70 mortes. Além disso, foram 236 registros de influenza B, com 29 mortes e os outros 221 de influenza A não subtipado, com 32 mortes.

Entre as mortes, a idade foi de 52 anos.

O público com maior cobertura vacinal, até o momento é de puérperas, com 86,7%, seguido pelos idosos (86,6%), professores (85,4%) e indígenas (81,7%). Entre os profissionais de saúde, a cobertura de vacinação ficou em 79,7,6% e gestantes 62%. O grupo com menor índice de vacinação foram as crianças, entre seis meses e cinco anos, a cobertura é de apenas 57,5%.

Na cidade de São Paulo, a Secretaria Municipal da Saúde ressaltou a baixa procura da vacina da gripe por gestantes e crianças.

Apenas 40,4% das crianças entre 6 meses e menores de 5 anos e 39,8% das gestantes receberam a dose da vacina. O percentual é o menor de cobertura dentro dos grupos definidos pelo Ministério da Saúde para a vacinação.

 

R7