Cultos religiosos são proibidos na concentração de Tite

Para comemorar a volta aos gramados com gol, Neymar postou: “Para ti toda honra e toda glória, meu Deus”. No perfil do Instagram de Alisson, lê-se o lema “Deus é fiel”. Já Thiago Silva publicou “Deus no controle” durante o tratamento com gelo após o carrinho que levou no joelho contra a Croácia. Os exemplos mostram que a religiosidade é parte evidente do cotidiano dos jogadores da seleção. Mas, quando se trata do ambiente da concentração, a determinação é: nada de culto. São proibidos.

O assunto é recorrente a cada ciclo do Mundial. A onda da devoção no ambiente do futebol ganhou proporções relevantes desde os tempos da formação do grupo Atletas de Cristo, de confissão pentecostal, nas décadas de 1980 e 1990 — o ex-lateral e hoje técnico Jorginho, auxiliar de Dunga em seu primeiro mandato, era um dos expoentes. Mas a realização dos cultos nunca foi unanimidade: críticos viam nisso um traço desnecessário de uso do futebol para proselitismo, além do risco de divisões e incômodos no grupo. A verdade é que a coisa pegou: a Seleção Brasileira é famosa no mundo do futebol por ser uma das únicas a comemorar títulos formando um grande círculo no gramado para orar.

Curiosamente, o veto às reuniões coletivas com líderes religiosos ou mesmo entre os próprios atletas é um legado da segunda gestão Dunga (2014-2016). O cerco se apertou após um episódio em Boston, em 2015, no qual um pastor se reuniu com dez jogadores no hotel da seleção, sem a autorização da CBF. Para completar, o religioso ainda postou as fotos com os convocados nas redes sociais e até uma com Dunga, fora do contexto do culto, quando eles se encontram no aeroporto de Guarulhos.

“Eu já tinha pedido para não ter, aí aconteceu isso aí. Falei com eles: A partir de agora, vamos deixar claro: aqui é a CBF. Respeitamos todas as preferências e, na folga, cada um pode fazer o que quiser. Só que, na concentração, eu não quero mais. Nem pastor, nem pai de santo, ninguém. A seleção não pode ter mais do que um grupo. Na parte interna, ela é laica. Não é lugar de religião. É de trabalho”, contou Gilmar Rinaldi, coordenador de seleções à época, antecessor de Edu Gaspar.

Daqueles dez atletas que participaram do culto nos Estados Unidos — articulado pelo zagueiro David Luiz —, dois estão convocados para a Copa da Rússia: o goleiro Alisson e o meia-atacante Douglas Costa. Quando joga pela Roma, Alisson gosta de postar nas redes sociais como é o armário no vestiário. Ao lado de luvas, camisas, calções e meiões, é comum aparecer uma Bíblia.

Mas o goleiro está longe de ser um fiel solitário. A religiosidade abrange muitos outros jogadores, além dos já citados no início deste texto. Willian é um frequentador assíduo de cultos. Na folga, por exemplo, o atacante do Chelsea fez questão de se encontrar com o pastor da congregação da qual faz parte, em Londres.

Astro da companhia, Neymar mostra uma religiosidade evangélica de tempos em tempos. Chegou a ser muito criticado quando, em comemorações de títulos do Barcelona e da Seleção Olímpica de 2016, estampou uma faixa com os dizeres “100% Jesus”.

O próprio técnico Tite é muito religioso e não esconde isso. O treinador gosta de terços, correntes e outros tipos de amuletos e procurou uma igreja quando foi à Rússia para o sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Católico, não se incomodou em entrar em um templo da Igreja Ortodoxa Russa em Moscou para orar e buscar paz. Durante o mundial, o mesmo deve acontecer, em um momento de brecha na agenda. Na época de Corinthians, Tite presenteou um dos integrantes do grupo atual — o meia Renato Augusto — com uma pulseira de Nossa Senhora Aparecida.

Diante do veto ao culto nas concentrações, a faceta religiosa se manifesta nos vestiários, como já é tradição no futebol profissional brasileiro. Antes e depois das partidas, há um momento de oração, mas ali a delegação se une em um propósito: o pedido pela benção coletiva dentro de campo. Deus pode até não decidir qual lado vai ganhar, mas não custa nada lhe pedir proteção, acreditam eles.

 

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