Rosilene Gomes chora em depoimento à Polícia e, na surdina, articula retorno à FPF

No dia 26 abril deste ano, Rosilene Gomes, ex-presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF) e investigada pela polícia sobre currupção no futebol local, se dirigia para a Delegacia de Defraudações e Falsificações de João Pessoa para prestar um comovente e emocionado depoimento. Lembrou da família, dos problemas de saúde e da fase difícil pela qual passou em 2014 após seu afastamento da FPF, forçado pela Justiça. Disse ter sido aconselhada por médicos para jamais pensar em voltar ao mundo do futebol. E confirmou ao delegado que não cogitava desobedecer os conselhos. Ideia bem diferente da que tratou com José Renato, ex-presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol da Paraíba (Ceaf-PB), pouco mais de dois meses antes, conforme uma interceptação telefônica realizada pela Polícia Civil, em que ela revela que pretende ser candidata nas eleições deste ano para a presidência da entidade.

O GloboEsporte.com teve acesso a essa escuta e ao depoimento de Rosilene Gomes para o inquérito que apura, dentre várias irregularidades, a compra de árbitros e a manipulação de resultados no futebol paraibano. Em um dos diálogos registrados pela Operação Cartola, datado do dia 14 de fevereiro, contradizendo o seu depoimento dado à polícia, a ex-dirigente, que passou 25 anos no poder da FPF, discute com José Renato o cenário político da entidade e traça estratégias para o próximo pleito.

-Rosilene: Tu acha que o Treze vota com ele?

-José Renato: Vota não. Lógico que você vai ter que chamar aí de um por um. Ou ir onde eles estão. Porque quem está precisando somos nós. Se a senhora chamar aí eles vão.

-Rosilene: Eu não tenho telefone desse povo.

-José Renato: Dos profissionais da primeira divisão eu dei tudinho a Tyrone, mulher. Da segunda divisão eu não tenho. Eu estou procurando uma pessoa que possa me dar para que Amadeu não saiba.

-Rosilene: Ele não fala de jeito nenhum quem vai ser o vice dele?

-José Renato: Fala não. Eu já acho que seja Marquito.

[…]

Rosilene: Se na realidade vocês (médicos) chegarem para mim e me provar que eu não posso ser candidata, eu boto Sandro ou Tyrone. Nem que bote Sandro como meu vice, eu renuncio de imediato e saio.

[…]

Rosilene: Eu não posso ficar para semente, mas eu não quero morrer agora. Antes eu quero matar Amadeu do coração (risos).

José Renato: Na medida que a senhora voltar através do voto, a senhora mata ele do coração.

Já em seu depoimento à polícia, Rosilene fala de um drama familiar que viveu e se emociona bastante. Diz que desde 2014, quando foi afastada pela Justiça do cargo maior do futebol paraibano, vive o pior momento da sua vida. Ela ainda explica para a polícia que falava para as pessoas que não queria ser candidata porque era o que os diversos médicos que acompanhavam a sua saúde aconselhavam.

– São nove médicos. Era o que mais pede: “Não me fale de Federação”. Eu falava… tinha contato justamente com José Renato. Eu não quero ser candidata da Federação. Quero não. Minha saúde está em primeiro lugar em todas as circunstâncias. De 2014 para cá, minha vida acabou – diz, emocionada, Rosilene.

Rosilene avisa a José Renato sobre suposto aúdio com Fábio Azevedo
Na conversa entre os ex-dirigentes da FPF, que dura cerca de uma hora, Rosilene Gomes começa o diálogo avisando que tomou conhecimento de uma suposta fita em que José Renato estaria em contato com Fábio Azevedo, atual diretor de futebol do Treze e ex-presidente do Galo da Borborema, pedindo para que o dirigente do Alvinegro apoiasse Amadeu Rodrigues na eleição da FPF.

José Renato então pergunta se o áudio ao qual ela se referia não seria um de Lucas, ex-prestador de serviços para FPF, falando que o árbitro Éder Caxias havia recebido R$ 100 mil do Treze.

Rosilene: Falando de Amadeu, falando de você e falando do menino do Treze. Em relação a sua pessoa com Fábio. E falando de Lucas. Que Lucas é quem faz toda transação… menino, eu fiquei tão nervosa na hora, que eu não peguei muito não…
José Renato: Não é uma gravação que Lucas fala que Éder recebeu cem mil reais…
Rosilene: É mais ou menos assim… você chamou Fabinho e disse “olhe, Fabinho, eu quero lhe dizer que você se comporte bem direitinho… seja do lado de Amadeu… é um pedido que estou lhe fazendo… eu faço tudo que você quer, contanto que seu presidente vote nele, Amadeu, que você trabalhe para Amadeu ser eleito.

-José Renato: Não existe essa gravação, não.

-Rosilene: Eu estou dizendo o que eu escutei.

-José Renato: Com a voz de quem?

-Rosilene: Esse camarada… dizendo que era Renato.

[…]

-José Renato: Hoje de manhã eu recebi uma ligação de Genildo Januário dizendo “Zé, Gilvanez pirou de vez. Ele tem uma gravação de Lucas… Lucas dizendo que Alankardec do Treze deu R$ 100 mil reais a Éder (Caxias) e esses R$ 100 mil seria dividido comigo…”. (…) E essa voz é de Lucas.

-Rosilene avisa a árbitro João Bosco Sátiro que tem fita que o compromete

No mesmo dia da conversa acima, entre Rosilene e José Renato, que foi aparentemente bem amistosa, a dirigente também conversou com o árbitro João Bosco Sátiro. No diálogo, realizado antes da conversa com José Renato, Rosilene adota um tom agressivo contra o ex-árbitro, com quem conversaria mais tarde, à noite. O comportamento paradoxal chega ao ponto de a dirigente chamar José Renato de “bandido”, na conversa com Bosco.

-Rosilene: Olha, eu quero te dizer que eu tenho uma fita que te compromete com o Lucas… de arbitragem para favorecer ao Treze, visse…

-João Bosco Sátiro: Vou pegá-lo!

-Rosilene: Tu tem cuidado com Renato… tu tem cuidado com Renato…

-João Bosco Sátiro: Quero tá perto não, doutora.

-Rosilene: Tu tem cuidado com Renato… estou dizendo em nome do teu pai (…) é um bandido… ele nunca te falou nada?

-João Bosco Sátiro: Renato não… pra mim não…

 

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