Sequestrador de ônibus contou a parentes que ouvia ‘vozes dentro da cabeça’

‘Tinha a intenção de fazer algo grande’

O sequestro foi anunciado às 5h26m. Willian mostrou a arma, ameaçou incendiar o ônibus inteiro e ordenou que o veículo ficasse atravessado na pista sentido Rio da Ponte. “Quero entrar para a História”, disse o sequestrador. Obrigou uma passageira a pendurar os potes feitos com garrafas PET, cheios de gasolina. Amarrados com lacres de plástico, os reféns frisaram que não foram agredidos, mas disseram que temiam pelo pior, já que Willian parecia determinado a não se entregar.

O comandante do Bope, tenente-coronel Maurílio Nunes, que assumiu o papel de gestor de crise no local do sequestro, disse que a decisão de atirar foi tomada depois que William parou de se comunicar com os policiais.

— Ele não queria praticar um assalto, isso ficou claro desde o começo. Tinha a intenção de fazer algo grande, de ferir pessoas ou cometer suicídio — afirmou o oficial.

Mãe de sequestrador é consolada

No início deste ano, parentes de Willian Augusto da Silva começaram a notar mudanças em seu comportamento. Era um rapaz introvertido, de poucos amigos. Na Delegacia de Homicídios, na Barra, a família contou que, em janeiro, durante um churrasco, ele teve um surto psicótico. Disse que se sentia deprimido, que estava sofrendo muito e que ouvia “vozes dentro da cabeça”. Depois desse episódio, passou a beber muito. Além disso, ficava a maior parte do tempo usando um celular para navegar pela internet.

Os pais de Willian, moradores do bairro do Jockey, em São Gonçalo, perceberam a mudança, mas o jovem, de 20 anos, não chegou a receber atendimento médico. Ele nunca tratou a depressão. Na madrugada de ontem, enviou uma mensagem para os pais, avisando que iria acabar com a própria vida. Pouco mais de cinco horas depois, às 9h04m, ele foi morto com seis tiros disparados por um sniper do Bope.

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Para a polícia, não há dúvida de que toda a ação foi planejada com bastante antecedência por Willian. Por volta das 5h, ele chegou ao ponto final do ônibus 2520, em Alcântara (São Gonçalo), e entregou ao motorista uma nota de R$ 20. Recebeu o troco de R$ 10,85 sem falar nada. Numa mochila, carregava todo o material que iria usar durante o sequestro — a réplica de uma pistola, uma arma de choque, garrafas PET cortadas para acondicionar gasolina, barbante, um isqueiro e um livro, “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, do escritor Charles Bukowski.

A obra é uma reflexão sobre a vida, mostra como a sociedade negligencia pequenas coisas que poderiam torná-la melhor. O livro foi publicado em 1998, quatro anos após a morte de Bukowski. “Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada”, diz um trecho.

— Meu primo era um ótimo filho. Ele desencadeou um quadro depressivo. Tinha que pagar pelo que fez hoje, e, graças a Deus, quem está chorando é só a minha família. Digo isso porque outras 39 poderiam estar chorando. Foi ele quem quis pagar com a própria vida pelo que fez. Eu procurei todas as famílias de passageiros para pedir desculpas. Pedir desculpas é o que minha família pode fazer agora — afirmou Alexandre Silva, emocionado.

‘Tinha a intenção de fazer algo grande’

O sequestro foi anunciado às 5h26m. Willian mostrou a arma, ameaçou incendiar o ônibus inteiro e ordenou que o veículo ficasse atravessado na pista sentido Rio da Ponte. “Quero entrar para a História”, disse o sequestrador. Obrigou uma passageira a pendurar os potes feitos com garrafas PET, cheios de gasolina. Amarrados com lacres de plástico, os reféns frisaram que não foram agredidos, mas disseram que temiam pelo pior, já que Willian parecia determinado a não se entregar.

O comandante do Bope, tenente-coronel Maurílio Nunes, que assumiu o papel de gestor de crise no local do sequestro, disse que a decisão de atirar foi tomada depois que William parou de se comunicar com os policiais.

— Ele não queria praticar um assalto, isso ficou claro desde o começo. Tinha a intenção de fazer algo grande, de ferir pessoas ou cometer suicídio — afirmou o oficial.

Mãe de sequestrador é consolada

Na delegacia, a mãe de Willian passou mal e precisou sair do prédio para respirar. Quem a consolou e lhe ofereceu uma garrafa d’água foi Paulo César Leal, de 54 anos, pai de uma refém, Raiane, de 23.

— Eu não tenho poder de julgar. Falei para ela ter calma e confiar. O que você fala para uma família que perdeu um filho? Tentei confortar. Tentei ajudar. A minha intenção foi tentar ajudar porque a dor é sentida pelos dois lados. E ali, naquele momento, ela estava precisando de apoio. Fui falar alguma coisa. Ela sofreu um desmaio. Não adianta ver só o meu lado, a minha família. Somos todos humanos — disse Paulo César.

A família de William não tem dinheiro para bancar o enterro do jovem. A Secretaria estadual de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência assumiu o compromisso de arcar com a despesa. O sepultamento ainda não tem data nem local definido.

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