Raiva no Pará é acidente e não surto, diz infectologista

A morte de uma criança vítima de raiva em Melgaço, na Ilha de Marajó, no Pará, no último dia 11, e a ocorrência de 11 casos suspeitos da doença no local configura mais um acidente do que um surto, segundo o infectologista Alexandre Barbosa, coordenador do Comitê de Emergência em Infectologia da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A desinformação sobre a raiva, tanto em crianças quanto em adultos, levou à falta de prevenção e à demora no atendimento às vítimas, contribuindo para o agravamento da doença e à morte, de acordo com o infectologista.

As vítimas são crianças de 2 a 11 anos e um adulto. Eles foram atacados por morcegos contaminados. Sete crianças estão internadas em estado grave. Amostras sorológicas já foram coletadas e encaminhadas ao Instituto Pasteur, referência em diagnóstico de raiva, em São Paulo.

Além disso, quatro crianças já morreram com suspeita da doença.

“Elas entraram em contato com o vírus e não procuraram atendimento médico, porque eram crianças e não sabiam o risco ou porque eram adultos e não tinham essa informação. Dependendo do tempo em que a pessoa demora para procurar atendimento médico e tomar o soro, a doença pode ser 100% fatal”, afirma.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde do Pará, casos confirmados de raiva não ocorrem no Estado há 13 anos. Em 2005, 15 pessoas morreram na cidade de Augusto Corrêa e 3 em Viseu. Todos os casos foram ocasionados por morcegos hematófagos – que se alimentam de sangue.

Devido à morte e os casos suspeitos da doença atualmente na ilha de Marajó, a secretaria iniciou campanha de vacinação contra a raiva. Cerca de 500 pessoas já foram vacinadas e receberam mosquiteiros para serem utilizados como proteção contra morcegos.

Mais mil doses de vacina antirrábica e 300 frascos de soro antirrábico foram enviados nesta última segunda-feira (14) para a ilha de Marajó, segundo a secretaria.

Barbosa explica que há duas maneiras de lidar com a doença: por meio da pré-profilaxia (vacina antirrábica) e da pós-profilaxia (soro antirrábico). A primeira, na qual a vacina é tomada como forma de prevenção, é recomendada para pessoas que estão sujeitas ao contato com o vírus como veterinários, trabalhadores rurais e fazendeiros. Já a segunda, feita após a exposição, é utilizada somente no caso de contágio da doença.

A raiva é uma doença infectocontagiosa transmitida por um vírus universal, não podendo ser erradicado, segundo o infectologista. Pode ser encontrada em grupos de morcegos, que, mesmo sem desenvolvê-la, transmitem a doença.

É transmitida para outros animais e seres humanos por meio do contato com a saliva do animal infectado. Uma pessoa infectada terá uma série de alterações comportamentais, podendo machucar outras pessoas, inclusive morder. “A saliva e a lágrima são altamente contagiosas, sendo ricas em vírus de raiva. A pessoa infectada apresenta irritabilidade, convulsões, alucinações e agressividade”, afirma.

Recentemente, foram encontrados morcegos infectados em Vitória, no Espírito Santo, e em Botucatu, no interior de São Paulo. Segundo o infectologista, se tratam se casos isolados – e esperados – e não de um prenúncio de surto da doença no Brasil.

“Todos os lugares em que você for, vai achar. É um vírus que circula entre morcegos. Sempre existiu e é normal. Não há nenhum surto ou algo para se alarmar. Só é necessário tomar as precauções”, explica.

 

R7