Coronavirus pode ter surgido em setembro, dizem cientistas ingleses

É difícil estabelecer com precisão a origem da pandemia de Covid-19. Oficialmente, o primeiro caso da doença na China foi registrado em 8 de dezembro de 2019 em Wuhan, e autoridades do país investigam possíveis casos ocorridos um mês antes, em novembro. Mas um novo estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, sugere que o vírus Sars-Cov-2, que causa a doença, pode ter surgido ainda mais cedo, e mais ao sul do país.

Os pesquisadores analisaram a sequência genética de mais de mil amostras do vírus obtidas no mundo todo, e usaram uma técnica chamada rede filogenética para mapear seu movimento através de suas mutações. Sabendo a taxa de mutações do vírus, que é de aproximadamente uma por mês, e identificando um ancestral, é possível identificar quando ele surgiu. Segundo pesquisadores, isso ocorreu em um período entre 13 de setembro e 7 de dezembro de 2019.

O Sars-Cov2-2 tem 96% de semelhança genética com um vírus chamado RaTG13, identificado em morcegos na província de Yunnan, na China, em 2013. Mas há centenas de mutações entre este e o Sars-Cov-2, o que leva os cientistas a suspeitar que o vírus vinha se alastrando silenciosamente entre animais hospedeiros ou humanos até que uma mutação crucial o tornou muito mais letal.

“O que reconstruímos na rede é a primeira disseminação significativa entre humanos”, diz o geneticista Peter Forster, da Universidade de Cambridge. “O vírus pode ter sofrido uma mutação para sua forma ‘eficiente’ em humanos meses atrás, mas ficado dentro de um morcego, outro animal ou mesmo um humano por vários meses sem infectar outros indivíduos. Então, ele começou a infectar e se espalhar entre humanos entre 13 de setembro e 7 de dezembro, gerando a rede que apresentamos”

Entretanto, redes filogenéticas tem sua precisão limitada pela quantidade de amostras analisadas e suposições quanto à sua velocidade de mutação.

Segundo Su Bing, geneticista do Instituto de Zoologia de Kunming, em Yunnan, na China, “sempre há uma margem para erros. Este trabalho pode nos dar pistas importantes para investigações futuras, mas as conclusões devem ser tratadas com cautela”, afirma.

“Este tipo de pesquisa pode nos ajudar a entender como a transmissão ocorreu, e nos ajudar a prevenir ocorrências similares no futuro”, diz Forster.

Fonte: South China Morning Post