Título do River Plate na Libertadores teve golaços no campo, paz na rua e festa na arquibancada

No Santiago Bernabéu, a 10 mil quilômetros de Buenos Aires, sob o frio de 10 graus no outono europeu, a Taça Libertadores mais longa da história finalmente tem um campeão, decidido no campo, como deve ser. Numa partida espetacular, o River Plate bateu o Boca Juniors de virada, por 3 a 1, e conquistou seu quarto título. Os gols de Pratto, Quintero e Pity Martinez entraram para a história, vão virar tema de músicas que a torcida do River nunca mais vai parar de cantar.

Sob os olhares de Messi e vários outros craques, um dos palcos mais tradicionais da Europa se transformou por uma noite numa cancha sul-americana. Acostumados ao comportamento blasé da torcida do Real Madrid, os assentos do Bernabéu tiveram que conviver com gente que não senta, vê o jogo de pé, pula com frequência e não para de gritar. O futebol talvez tenha sido menos refinado do que o usualmente praticado neste estádio, mas não menos emocionante, não menos espetacular.

A final na Espanha deixa algumas lições e uma pergunta incômoda para o futebol sul-americano. Ficou claro que é possível organizar com total segurança uma partida entre os dois maiores rivais do futebol argentino com festa nas ruas e o estádio dividido entre as duas torcidas. Por que não é possível jogar na América do Sul?

A mudança para Madri foi um vexame para a Argentina e suas autoridades, incapazes de garantir a segurança de uma partida em sua capital. Foi um vexame para a Conmebol e seus cartolas, incapaz de organizar em seu continente a final de seu principal torneio de clubes. Mas foi uma vitória do futebol.

Porque o jogo aconteceu, porque Leonardo Ponzio levantou a taça, porque os jogadores vestidos de branco e vermelho deram uma volta olímpica, porque Nandez deu um passe espetacular para Benedetto abrir o placar, porque Pratto empatou numa linda jogada coletiva de River, porque Quintero acertou um desses chutes que nunca vão sair da história, porque Pity Martinez soube aproveitar o desespero do Boca para fechar a festa. Porque escanteios puderam ser batidos sem a necessidade de escudos policiais.

Porque os ônibus dos dois times chegaram ao estádio sem serem apedrejados, porque nenhum jogador inalou gás de pimenta e nem teve que ser levado ao hospital para tratar de ferimentos nos olhos antes de uma partida de futebol.

Porque as torcidas se comportaram bem dentro e fora do Santiago Bernabéu.

A do River ocupou a Puerta del Sol, marco zero de Madri, pendurou seus trapos na enorme árvore de natal instalada na praça e atraiu a simpatia dos locais e dos turistas, impressionados com a festa, a barulheira, a bagunça pacífica.

A torcida do Boca se concentrou no hotel do time, mais longe do centro, e também se comportou. Os vizinhos do bairro tranquilo tiraram fotos, fizeram vídeos, mandaram para os amigos. Ali sempre se hospedam os times europeus que vêm a Madri para enfrentar o Real ou o Atlético. Também trazem seus torcedores, mas não fazem nada parecido.

Não faltam motivos para criticar a mudança da final da Libertadores para Madri, mas é preciso ter claro que houve uma tentativa de organizar o jogo na Argentina, e é preciso lembrar os motivos pelos quais aquela partida não foi realizada.

A final foi muito melhor do que a Libertadores de 2018, a Libertadores dos escritórios e tribunais, o torneio que deixou Boca e River (mas não o Santos) escalarem jogadores inscritos irregularmente, que permitiu ao técnico do River Marcelo Gallardo ignorar uma punição, que teve um time finalista vítima de um atentado horas antes da decisão que deveria ser jogada em Buenos Aires.

O River agora embarca rumo aos Emirados Árabes Unidos, onde vai disputar o Mundial de Clubes a partir do próximo dia 18. O Boca vai ter que lamber suas feridas, avaliar o que fez de errado. A Conmebol e a Argentina também.

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